terça-feira, 21 de julho de 2009

NOTÍCIAS INTERESSANTES - Museus e Jogador de Futebol



Partindo do princípio que duas pessoas sabem o que é um museu, porque uma o frequenta e a outra não?
Foi o que me indaguei ao ler uma reportagem especial da revista Veja (edição 2112, ano 42, 13 de maio de 2009), escrita por Kalleo Coura, Chuteiras que Valem Ouro. A matéria trata sobre o negócio rentável do futebol, com a exportação de jogadores brasileiros para outros países. Entre as diversas entrevistas, duas me chamaram a atenção porque citavam a palavra museu, proferida por dois jogadores, o Dunga e o Breno (veja nas duas imagens que peguei da revista).

Pois bem, o Breno, que joga no Bayern de Munique, e vive portanto em uma cidade onde se respira cultura e possui um dos maiores museus de tecnologia que eu já visitei, diz, entre outras coisas "No tempo livre, geralmente fico em casa assistindo partidas de futebol. Quando saio em Munique, costumo ir a shopping, ao centro ou a lojas e restaurantes legais. Não me interesso por museus."

Na página seguinte, em sua entrevista, o Dunga (acho que não preciso dizer que é o treinador da Seleção Brasileira!) afirma: "... quando morei na Itália, tentei viver como um italiano [...] Em Florença, por exemplo, ia sempre aos mercados tradicionais e a museus. Cheguei a entrar em lugares históricos reservados [...] De certa forma, essas experiências me deixaram com a cabeça mais aberta..."

Duas cabeças, duas sentenças sobre museus.

Segundo Neil e Philip Kotler, na obra Marketing dei Musei (editora Einaudi, 2004) "As pessoas são conscientes da existência dos museus, tem diversos graus de interesse neste tipo de oferta cultural, atitudes diversas em seu confronto além de disponibilidades também diversas para visitá-los. Isto depende de uma série de fatores: culturais, classe social, propensão à socialização e o tipo de personalidade. Um desafio importante para os responsáveis do marketing dos museus é compreender como o ambiente, a predisposição a a percepção preesistente influenciam o comportamento das pessoas no confronto do museu." (tradução livre do italiano).

A análise do comportamento dos dois jogadores frente aos museus pode, em parte, ser explicada pelos Kotler, com o auxílio do pouco que disseram nas entrevistas. Quais os fatores que fizeram o Breno não se interessar por museus e fizeram o Dunga ter atitude contrária? Ambos são de origem humilde, onde o ambiente influencia a percepção dos cânones culturais; quem sabe por alguma razão (um professor criativo, um trabalho escolar, a influência de alguma pessoa) podem ter levado o Dunga a ter apreendido o significado de museu e ele levou para sua vida adulta uma percepção positiva? Quem sabe o Breno não recebeu nenhum estímulo que o levasse a se interessar por museus? Será que seus empresários não o levaram a conhecer algum museu em Munique? O fator propensão à soclialização fica claro no depoimento de Dunga, justamente o contrário daquilo que se observa com Breno. Quanto à personalidade, as declarações me deixaram o indício que Dunga é extrovertivo, comunicativo, aberto ao conhecimento e a novos estilos de vida, já o Breno me demonstrou insegurança, introvertimento, dependente do conhecimento alheio e ainda muito apegado ao estilo de vida que conduzia no Brasil. Talvez, daí, a diferença entre os dois no confronto com os museus.
Um museólogo não é, naturalmente, psicólogo, mas, na promoção do seu museu, deve se valer de amplos conhecimentos. O marketing de museus tem como um dos seus pilares, a psicologia do público.

Uma anedota para concluir, por ora, o tema:
- Um fabricante de sapatos envia dois vendedores para analisar o mercado, em uma região isolada do planeta. Chegando lá, os vendedores constatam que todas as pessoas andam descalças. Ao voltarem para a base o fabricante pergunta sobre as possibilidades de vender sapatos naquela região. O vendedor A diz: - É impossível pois ninguém usa sapatos por lá. O vendedor B diz: - O mercado é fabuloso! ninguém usa sapatos por lá!
Qual é a sua postura como museólogo? a do vendedor A ou a do vendedor B? Acredito que da sua resposta o público potencial dos museus pode ou não agradecer!

5 comentários:

  1. Muitos fatores podem pesar nas duas diferentes atitudes: o meio ambiente (talvez um brasileiro se acha melhor lidando com italiano do que com alemâo, e esto pode levar a uma atitude mais fechada e saudades do Brasil); a idade: Dunga chegou na Itàlia jà com 24 anos, Breno tem agora sò 19; a diferença de geraçoes (Dunga faz parte de uma "geraçao de palavras", Breno de uma "geraçao de imagens")...

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  2. Creio que o ambiente para o qual se deslocaram teve pouca influência, partiram do Brasil com suas percepções e personalidades já definidas em muitos aspectos. A diferença de idade é pouca. Na realidade, a cultura da maioria dos brasileiros está relacionada com aquilo que chamo de "lazer social" (shopping, bares, shows, etc.); o "lazer cultural" (museus, galerias, mostras, teatro, etc.), fica em segundo plano. Talvez porque ainda não tenhamos adquirido a devida "maturidade" nesse particular.

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  3. Concordo em grande parte com o que Anônimo escreve sobre o lazer social e o lazer cultural; posso acrescentar que nao é questao de Brasil, que é um Pais jovem: eu sou italiano, e fico sempre espantado com a quase total falta de interesse na cultura. Muitos dos que vivem em Roma visitam os Museus Vaticanos uma vez na vida, mais ou menos aos 12 ou 13 anos, numa rápida visita escolar, pode-se imaginar com qual interesse e resultados... Um probleminha interessante seria: como fazer com que um museu apareça "cool"? Não só para jovens, claro, mas para o publico em geral.

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  4. Eu tambem sou italiana e poso confermar que falta de curiosidade cultural è um problema planetario.
    Vocè pode acreditar que em Italia , tem pessoas que vive uma vida inteira sem visitar Florencia ...... nao è brincadeira , pessoas que mora em Milao e que eu conheci .
    E' inaceditavel , mas acontece.
    A escola tambem nao ajuda , tem muita pouca promoçao cultural , mas muito depende da educaçao familiar.
    Nos adultos temos que dar bom exemplo, nao adjanta falar da importancia da cultura geral, precisa viver-la.
    Giusi

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  5. Vera, adorei seu blog, já inclui na minha lista de favoritos.

    Penso que sua proposta de compartilhar com os outros suas idéias e conhecimentos, é de grande valia para a Museologia, afinal, muitas pessoas poderão ter a opurtunidade de apreender com vc, como nós já apreendemos (e contutiuamos a apreender) ao logo de tantos anos de trabalho e amizade.
    Por experiência própria, posso afirmar que minha paixão por museus, e o conhecimento que tenho sobre museologia em grande parte é mérito seu. E o que é mais incrível, é constatar que embora seja Bibliotecária, gosto muito mais de museus do que de bibliotecas, não me refiro diretamente ao volume de conhecimento/informação que estes espaços proporcinam, em que pese o mérito da Biblioteca, mas ao mundo de possibilidades, o dinamismo e encantamento que os museus podem poporcinar às pessoas (tanto para os trabalham quanto para os que visitam museus). Por isso, ainda me espanto se alguém me diz que nunca visitou um museu, a primeira coisa que me vem a cabeça é: Não acredito! Quantas coisas boas essa pessos já perdeu!..
    Os muitos anos trabalhando em museus, e 2 anos em biblioteca universitária, me fizeram perceber, como os públicos são distintos, assim como as motivações. Em suma percebi que as pessoas vão à biblioteca muito mais por obrigação, e já para os museus muito mais por prazer ou lazer.
    Infeliz em parte isso acontece, por que há ainda entre museus e bibliotecas uma grande barreira de atitudes e funções, que na minha opinião deveriam ser revistas e quebradas.
    Ás vezes fico me perguntando como seria uma Biblioteca que adotasse os princípios de museus, quanto às ações culturais, dinamismo e formas de comunicação?.
    Da mesma forma às vezes acho, que todo museu deveria ter ou ser como uma biblioteca, em termos de oferta e organização do conhecimento.
    Concordo plenamente com vc sobre análise das motivações que levam as pessoas a gostar ou não de museus, como tratou na reportagem.
    E também, sinto nisso, uma responsabilidade maior nossa, de mudar nossas atitudes.

    Sim. Termos muito trabalho ainda, como o VENDEDOR B...


    Parabéns Amiga-Mestra!
    G.Lima

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