quinta-feira, 23 de julho de 2009

DIÁRIO de Uma Museóloga - Cinema na Floresta










Um dos trabalhos mais prazerosos que realizei na minha vida. O Projeto Cine Vídeo Mambembe surgiu quando elaboramos o projeto de implantação do MISAM – Museu da Imagem e do Som do Amazonas. Sabíamos da inexistência de cinemas no interior do Amazonas e a Secretaria da Cultura do Estado queria interiorizar as suas ações, Robério Braga (secretário da Cultura) prontamente topou levar adiante o projeto. Elaboramos um projeto simples, de baixo custo, executado pelo próprio pessoal do Museu em parceria com a empresa Formato Telões, da qual alugávamos o telão, o projetor e as caixas de som e levávamos o técnico para operar os equipamentos.

Produzimos um material de promoção bem colorido e chamativo que era encaminhado à Prefeitura do Município, com dez dias de antecedência, para divulgar o evento, afixando cartazes e distribuindo folderes nas escolas. Também pedíamos para providenciarem a instalação do suporte do telão, normalmente dois paus de acariquara, fincados em praça pública, no campinho de futebol, onde desse!

As projeções eram, invariavelmente, aos sábados, porque partíamos de Manaus na sexta feira, após o expediente no Museu, e a viagem de barco durava de 12 a 18 horas. Ao chegar à cidade íamos imediatamente providenciar a montagem do telão, que tinha de ser desmontado na mesma noite para que pudéssemos retornar a Manaus a tempo de, na segunda feira, estarmos batendo o ponto no Museu!

Uma trabalheira feita com responsabilidade, mas muita diversão e alegria!

A programação consistia na projeção de dois filmes, o primeiro, Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, servia de “canto da sereia”, pois o som era ouvido a distância e a música atraía as pessoas, os primeiros que chegavam eram as crianças. O segundo filme era O Auto da Compadecida, comédia que caía no gosto de todos.

Foram muitos os municípios onde levamos o Cine Vídeo Mambembe e, em todos, era muito gratificante ver a reação positiva das pessoas diante de uma tela de cinema em tamanho real. Daria para escrever um livro das histórias que vivemos. Lembro-me de ter ouvido, uma vez, um senhor exclamar – Meu Deus! Não sabia que tinha uma televisão tão grande! Quando apresentamos em uma pequena comunidade no interior de Autazes eu disse para o pessoal: - Que pena, aqui moram poucas pessoas! Mas quando foi no final da tarde começamos a ver gente saindo de todos os quadrantes da floresta, vinha a pé, de barco, canoa, bicicleta, lombo de cavalo... ficamos surpresos quando contamos quase 500 pessoas! Um sucesso retumbante!

Como tudo na vida obedece a um ciclo, que pode ser renovado, ou pode acabar em si, O Cine Vídeo Mambembe acabou. Mas tenho certeza que, para as milhares de pessoas que o viram, alguma coisa ficou na Memória. Alguma coisa ressoou na Floresta Amazônica.

Esta é uma das missões dos Museus, deixar alguma coisa na Memória das pessoas, seja para recordar um momento de lazer e diversão, seja como lição de vida. Esse projeto me deixou saudades, saudades da camaradagem da equipe, eu, Alba, Neto o técnico da equipe do Paiva, da Formato Telões. Saudades das viagens, das pessoas, do sofrimento em achar que o telão ia cair no meio da projeção, saudades de um "fazer museologia" sem temor e sem fronteiras!
O espaço do Museu não é restrito a quatro paredes. O espaço do Museu é o Mundo. E cabe inteiro no meu coração de museóloga.

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