sexta-feira, 31 de julho de 2009

Notícias - MUSA Museu da Amazônia











Estive ontem na Livraria Saraiva participando de uma palestra sobre o MUSA – Museu da Amazônia, proferida pelo seu coordenador, o professor Ennio Candotti com a participação da equipe. Tenho acompanhado pela mídia a evolução deste projeto, mas não conhecia a equipe e a forma como o museu é apresentado. É muito diferente quando se conhece ao vivo e a cores! Um público bastante heterogêneo formava a platéia, estudantes de nível médio e superior, jornalistas, pesquisadores... Não poderia deixar de tecer aqui, as minhas considerações do que pude perceber.

Na realidade o professor Candotti não apresentou um projeto e sim um Conceito. Um Conceito de Museu que vai ao encontro daquilo que hoje é chamado de Nova Museologia. Uma Museologia vista como agente de mudanças sociais e do desenvolvimento sustentável do planeta. Uma Museologia aberta e sintonizada com o Novo Mundo o qual já podemos descortinar e cuja grande janela está diante mim: o monitor do meu PC. Uma Museologia que quebra seus próprios paradigmas, onde o objeto continua tendo papel de destaque, mas que nada comunica se não for inserido e explicado dentro de um processo, de um contexto sócio-cultural-ambiental de âmbito não só local, mas globalizado. Uma Museologia que quebra o paradigma do museu confinado entre quatro paredes, do objeto preservado, sacralizado em uma vitrine e que faz do meio ambiente a grande vitrine da Vida.

Na Novíssima Museologia tudo pode ser musealizado porque Museu é comunicação, é interação, é troca, é preservação e conservação, é memória do ontem e do amanhã, é vivência do hoje, é sustentabilidade, é vida, é também solidariedade como foi dito na apresentação do MUSA. A natureza precisa da solidariedade do homem, o homem precisa da solidariedade dos seus pares, a Amazônia precisa da solidariedade de todos.

Sob esta ótica, o MUSA nasce quebrando um paradigma ao musealizar a Amazônia para que continue Viva e de pé. Mas com voz, como disse o professor Candotti. As formigas, as aranhas, os pássaros, as plantas, tudo deve falar porque tudo tem algo a dizer e a ensinar. O objeto museológico passa a ser todos os seres viventes na Amazônia, inclusive o homem. Explica-se assim, o termo Museu Vivo que vem sendo aplicado ao MUSA. Vivo não apenas no sentido literal, mas também no sentido de dar sustentabilidade à Amazônia através da socialização dos conhecimentos tanto científicos quanto tradicionais.

Quem não conhece não dá valor, não tem estímulo para preservar, é cego, não vislumbra o futuro. Quem não se projeta no futuro está morto.
- Quem quer virar comida de formiga?????????

Uma das coisas que mais me chamou a atenção, e creio que seja mais uma quebra de paradigma, é a forma de participação dos cientistas no projeto (pelo menos aqueles que estavam presentes na palestra e que fazem parte da equipe do MUSA). Senti neles a disposição de vencer a barreira da comunicação com o povo, de explicar (e compartilhar) de maneira compreensível as suas pesquisas, os resultados dos seus estudos (linguagem museológica). Um grande avanço que só vai beneficiá-los e, sobremodo, beneficiar a sociedade. Senti também um modo de fazer com alegria, com entusiasmo, vibrante! E olha que estamos falando de uma equipe pluri-institucional! Mas sob o comando do professor Candotti não poderia ser diferente, com ele se aprende que a Ciência e a Tecnologia podem ser apresentadas com bom humor! Eu também não sabia que os jaraquis eram branquinhos, quase transparentes!!! (aprendi na exposição da SBPC).

Foi levantada a questão se o MUSA conseguiria manter o diálogo com os visitantes sem a explicação pessoal e direta dos cientistas. Certamente que estes não poderão desempenhar regularmente o papel de monitores e guias, suas funções vão muito além, o conteúdo das informações depende deles e a busca do conhecimento é interminável! A comunicação museológica, porém, não se restringe às visitas guiadas, existem muitas formas e instrumentos de comunicação e interação com o público dentro de um museu; tenho certeza que serão usadas! Além do mais é preciso dar crédito e confiança aos jovens, eles estão aí, como esponjas, prontos a absorver os ensinamentos e, se tiverem oportunidade, atuarão como agentes multiplicadores.

Quanto aos que mostraram preocupação se o MUSA vai ter recursos para se manter eu acredito que sim, depende de todos nós. O MUSA é a Amazônia e a Amazônia depende do homem para se manter. Como eu disse na exposição Os Sentidos da Amazônia, basta ter equilíbrio. Mental! A natureza, no seu curso normal, se encarrega do equilíbrio ambiental.

Parabéns e força a todos que estão construindo o MUSA!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Drops das Musas

Para que serve Museu?
- Para não esquecer.
Para que serve lembrar?
- Para não repetir erros.
Quando foi que errei?
- Ao destruir a Memória.
Para que serve a Memória?
- Para ser lembrada ou esquecida nos Museus.
Depende de quem?
- Dos museólogos e dos visitantes.
Salvemos os dois!
- Amém.

domingo, 26 de julho de 2009

Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - parte 7





OS SETORES QUE COMPÕE A EXPOSIÇÃO (PERCURSO DE VISITAÇÃO)

07. SETOR DO PALADAR
O PÃO NOSSO DA FLORESTA
Um pouco da gastronomia amazônica, cujo carro chefe é o peixe. As frutas de odores e sabores especiais, os vinhos dos frutos das palmeiras, usados tanto no dia a dia quanto nas reuniões ritualísticas dos povos da floresta: o caxiri dos índios, o ayhuasca do Santo Daime, o açaí do Pará; um mundo de sabores, odores, texturas que se mesclam na cultura da Amazônia.

PALADAR
“Eu sou o pão da vida;
aquele que vem a mim,
de modo algum terá fome,
e quem crê em mim jamais terá sede.”
(João 6.35)

Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - parte 6




OS SETORES QUE COMPÕE A EXPOSIÇÃO (PERCURSO DE VISITAÇÃO)

06. SETOR DO OLFATO
PERFUMES DA HILÉIA
Os perfumes que a natureza amazônica exala, cobiçados pela indústria nacional e internacional de cosméticos, perfumaria e produtos de higiene, podem ser sentidos nesta seção da exposição, que fala de Chanel nº 5, imortalizado por Marilyn Monroe, cujo fixador é extraído do pau rosa, à biopirataria, na figura dos “piratas do mar verde”. Mais de trezentas espécies da flora amazônica, segundo os cientistas, proporcionam a extração de óleos essenciais e aromáticos. Uma seção muito feminina, a primeira alusão que os perfumes trazem!

OLFATO
“Que os seus lábios me cubram de beijos!
O seu amor é melhor do que o vinho.
O seu perfume é suave;
O seu nome é para mim como perfume derramado.
Nenhuma mulher poderia deixar de amá-lo.”
(Cântico dos Cânticos 1.2-3)

Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - parte 5









OS SETORES QUE COMPÕE A EXPOSIÇÃO (PERCURSO DE VISITAÇÃO)

05. SETOR DO TATO
A NATUREZA NAS MÃOS DO HOMEM
A natureza está literalmente nas mãos dos homens, esta a razão deste subtítulo. Com as mãos o homem pode destruir, mas também pode transformar, como fazem o caboclo e o índio da Amazônia que retiram da natureza o essencial à sua sobrevivência e, com as suas mãos, produzem as condições materiais de sua existência e os meios através dos quais adentram no universo simbólico de sua relação com o mundo espiritual. Mãos que tecem a rede, que esticam o arco, que modelam o barro, que esculpem a madeira, que confeccionam a máscara ritual.

TATO
“O Senhor teu Deus te há de abençoar
em toda a tua colheita,
e em todo trabalho das tuas mãos;
pelo que estarás de todo alegre.”
(Deuteronômio 16.15)

Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - parte 4






OS SETORES QUE COMPÕE A EXPOSIÇÃO (PERCURSO DE VISITAÇÃO)

04. SETOR DA AUDIÇÃO
AMAZÔNIA - A luta entre a Vida e a Morte: Adágio, andante, allegro
Como os movimentos de uma sinfonia, primeiro lentamente, depois um pouco mais rápido e por fim acelerado, segue o ritmo de destruição da floresta. Esta seção da exposição procura amplificar os sons que a natureza está emitindo na tentativa de fazer-se ouvir pelo homem. Através da linguagem audiovisual, é apresentada uma síntese de alguns aspectos da biodiversidade da Amazônia com o objetivo de despertar os sentidos dos visitantes para os principais aspectos que comprometem sua sobrevivência e, consequentemente, a do planeta. Desmatamento, queimadas, lixo e poluição urbana, tudo leva à morte do meio ambiente, mas no fim, a mensagem é de esperança, esperança que vem com o canto dos pássaros, com o murmurar das águas, com o som dos povos da floresta.

AUDIÇÃO
“Chegai-vos, nações, para ouvir,
e vós, povos, escutai;
Ouça a terra, e a sua plenitude,
o mundo e tudo quanto ele produz.”
(Isaías 34.1)


Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - parte 3





OS SETORES QUE COMPÕE A EXPOSIÇÃO (PERCURSO DE VISITAÇÃO)

03. SETOR DA VISÃO
OLHARES ALIENÍGENAS
A visão da Amazônia pelos estrangeiros oscila entre o deslumbramento, o encantamento, a admiração, o medo, a inveja. Entre as visões de paraíso e inferno, o olhar de cobiça dos alienígenas se sobrepõe, basta acompanhar ao longo da história a idéia de internacionalização da Amazônia. A seção Olhares Alienígenas trás a visão e as impressões dos viajantes que passaram por Manaus ao longo dos séculos, desde a do Ouvidor Sampaio em 1774 à do turista italiano Tommaso Abbruzzese, em 2007. As opiniões de alguns viajantes do século XIX ainda fazem eco com as opiniões recentes acerca da capital do Amazonas, como aquela que Manaus é uma terra de futuro promissor. Olhando a própria imagem em um espelho, o visitante é indagado sobre a sua visão da Amazônia e a sua impressão de Manaus.

VISÃO
“Eu vi um novo céu,
e uma nova terra.
porque já o primeiro céu
e a primeira terra passaram,
e o mar já não existe.
(Apocalipse 21.1)


Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - parte 2


OS SETORES QUE COMPÕE A EXPOSIÇÃO (PERCURSO DE VISITAÇÃO)

01. RECEPÇÃO
Através de uma pequena ambientação da floresta, o visitante é convidado a entrar no mundo mágico da Amazônia, explorando-a através dos seus sentidos.

“No princípio criou Deus
os céus e a terra.”
(Gênese 1.1)
...e a Amazônia.

02. EQUILÍBRIO ENTRE CÉU E TERRRA: Amazônia
Nesta seção o visitante começa a aguçar os seus sentidos. A audição é traduzida por um mantra AMAZÔNIA – TERRA – EQUILÍBRIO, que remete ao sexto sentido (equilíbrio) e que por sua vez remete ao equilíbrio da Amazônia que influencia no equilíbrio da Terra. Sementes de guaraná o convidam a sentir o gosto natural de um produto genuinamente amazônico. Fibras naturais o levam a sentir diferentes texturas. A casca preciosa exala seu perfume e através do buraco de uma fechadura, símbolo do voyeurismo, uma imagem da Amazônia se descortina aos olhares alienígenas.


EQUILÍBRIO
“E será o vosso temor e o vosso pavor
sobre todo o animal da terra,
e sobre toda a ave dos céus,
tudo o que se move sobre a terra
e todos os peixes do mar;
nas vossas mãos são entregues.”
(Gêneses 9.2)

Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - parte 1



Conceito da exposição:

Partimos do princípio de mostrar alguns aspectos da Amazônia explorando os sentidos sensoriais do homem, que eles agissem como fio condutor da narrativa, relacionando a terra e o homem, através do Equilíbrio (o primeiro a ser apresentado, considerado por muitos estudiosos o SEXTO sentido) da Visão, da Audição, do Tato, do Olfato e do Paladar.

É através dos sentidos sensoriais que nos apercebemos do mundo que nos envolve e lhe atribuímos significados. Tocar, olhar, cheirar, ouvir, saborear, tudo nos leva ao sentir. Quantas vezes na rotina do dia a dia nos detemos para admirar a capacidade extraordinária dos nossos sentidos e a singularidade das mensagens que nos são enviadas? E quantas vezes paramos para captar as mensagens que a Amazônia nos envia através da nossa percepção?

A exposição Os Sentidos da Amazônia foi idealizada pensando nas mensagens que a Amazônia, como organismo vivo, continuamente está enviando ao homem e na (in)capacidade deste em interpretar, através dos seus sentidos, estas mensagens.

Como nos sentidos do homem, o complexo natural e antrópico formado pela Amazônia não é independente e sem afinidades, ele é uma unidade onde as partes, em simbiose, se complementam. Para que a Amazônia continue em equilíbrio se faz necessário que o homem pare e preste atenção àquilo que a natureza está comunicando e, além dos seus cinco sentidos, use o sexto: sentido do Equilíbrio. Mental.

Cada seção da exposição foi introduzida com um trecho bíblico, o Livro dos livros, que faz alusão ao conceito que se quis transmitir, e em algumas seções o visitante pode ter contato com a literatura da Amazônia, ninguém melhor que Luiz Bacellar com o seu Sol de Feira para falar das frutas e frutos da terra na seção do Paladar; a poesia sensual de Aldísio Filgueiras para celebrar o cheiro da fêmea e do macho, na seção do Olfato; o alerta de Thiago de Mello na batalha que o homem trava, insanamente, contra a natureza. A literatura é um forte instrumento auxiliar de comunicação com o público de uma exposição!

Estimular no visitante a percepção de ver e não só olhar, de escutar e não só ouvir, de sentir e não só tocar, de saborear e não só comer, de inebriar-se e não só cheirar, esta é a intenção da exposição Os Sentidos da Amazônia.

Exposição OS SENTIDOS DA AMAZÔNIA - Como começou



Um dos grandes desafios do museólogo é olhar um salão vazio, inerte, e pensar em como ocupar esse espaço e acender nele a chama da comunicação e do conhecimento. Foi este o desafio que Robério Braga (Secretário da Cultura do Estado do Amazonas) colocou em minhas mãos, quando me chamou, em fevereiro de 2007, para fazer a curadoria da primeira exposição do CCPA -Centro Cultural dos Povos da Amazônia. Ele disse apenas, pense e faça. Dividindo o relato, vou contar um pouco de como pensei e conseguimos fazer, eu e uma brava equipe de quase quarenta pessoas, para dar conta da exposição Os Sentidos da Amazônia, no prazo de três meses, ocupando uma área de 1.200m².


sábado, 25 de julho de 2009

Drops das Musas

Dois tipos de poeira encobrem os objetos da Memória nos Museus. A poeira do tempo, natural, testemunha de uma História. E a poeira museológica, deixada assentar sobre a Memória, testemunhando a incúria a as trevas das administrações e gestões dos Museus. Uma grande responsabilidade repousa sobre o pessoal técnico: empunhar os instrumentos que retiram a poeira do descaso e fazer brilhar os objetos, cobertos pela poeira da vida que neles está representada.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

DIÁRIO de Uma Museóloga - Cinema na Floresta










Um dos trabalhos mais prazerosos que realizei na minha vida. O Projeto Cine Vídeo Mambembe surgiu quando elaboramos o projeto de implantação do MISAM – Museu da Imagem e do Som do Amazonas. Sabíamos da inexistência de cinemas no interior do Amazonas e a Secretaria da Cultura do Estado queria interiorizar as suas ações, Robério Braga (secretário da Cultura) prontamente topou levar adiante o projeto. Elaboramos um projeto simples, de baixo custo, executado pelo próprio pessoal do Museu em parceria com a empresa Formato Telões, da qual alugávamos o telão, o projetor e as caixas de som e levávamos o técnico para operar os equipamentos.

Produzimos um material de promoção bem colorido e chamativo que era encaminhado à Prefeitura do Município, com dez dias de antecedência, para divulgar o evento, afixando cartazes e distribuindo folderes nas escolas. Também pedíamos para providenciarem a instalação do suporte do telão, normalmente dois paus de acariquara, fincados em praça pública, no campinho de futebol, onde desse!

As projeções eram, invariavelmente, aos sábados, porque partíamos de Manaus na sexta feira, após o expediente no Museu, e a viagem de barco durava de 12 a 18 horas. Ao chegar à cidade íamos imediatamente providenciar a montagem do telão, que tinha de ser desmontado na mesma noite para que pudéssemos retornar a Manaus a tempo de, na segunda feira, estarmos batendo o ponto no Museu!

Uma trabalheira feita com responsabilidade, mas muita diversão e alegria!

A programação consistia na projeção de dois filmes, o primeiro, Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, servia de “canto da sereia”, pois o som era ouvido a distância e a música atraía as pessoas, os primeiros que chegavam eram as crianças. O segundo filme era O Auto da Compadecida, comédia que caía no gosto de todos.

Foram muitos os municípios onde levamos o Cine Vídeo Mambembe e, em todos, era muito gratificante ver a reação positiva das pessoas diante de uma tela de cinema em tamanho real. Daria para escrever um livro das histórias que vivemos. Lembro-me de ter ouvido, uma vez, um senhor exclamar – Meu Deus! Não sabia que tinha uma televisão tão grande! Quando apresentamos em uma pequena comunidade no interior de Autazes eu disse para o pessoal: - Que pena, aqui moram poucas pessoas! Mas quando foi no final da tarde começamos a ver gente saindo de todos os quadrantes da floresta, vinha a pé, de barco, canoa, bicicleta, lombo de cavalo... ficamos surpresos quando contamos quase 500 pessoas! Um sucesso retumbante!

Como tudo na vida obedece a um ciclo, que pode ser renovado, ou pode acabar em si, O Cine Vídeo Mambembe acabou. Mas tenho certeza que, para as milhares de pessoas que o viram, alguma coisa ficou na Memória. Alguma coisa ressoou na Floresta Amazônica.

Esta é uma das missões dos Museus, deixar alguma coisa na Memória das pessoas, seja para recordar um momento de lazer e diversão, seja como lição de vida. Esse projeto me deixou saudades, saudades da camaradagem da equipe, eu, Alba, Neto o técnico da equipe do Paiva, da Formato Telões. Saudades das viagens, das pessoas, do sofrimento em achar que o telão ia cair no meio da projeção, saudades de um "fazer museologia" sem temor e sem fronteiras!
O espaço do Museu não é restrito a quatro paredes. O espaço do Museu é o Mundo. E cabe inteiro no meu coração de museóloga.

terça-feira, 21 de julho de 2009

NOTÍCIAS INTERESSANTES - Museus e Jogador de Futebol



Partindo do princípio que duas pessoas sabem o que é um museu, porque uma o frequenta e a outra não?
Foi o que me indaguei ao ler uma reportagem especial da revista Veja (edição 2112, ano 42, 13 de maio de 2009), escrita por Kalleo Coura, Chuteiras que Valem Ouro. A matéria trata sobre o negócio rentável do futebol, com a exportação de jogadores brasileiros para outros países. Entre as diversas entrevistas, duas me chamaram a atenção porque citavam a palavra museu, proferida por dois jogadores, o Dunga e o Breno (veja nas duas imagens que peguei da revista).

Pois bem, o Breno, que joga no Bayern de Munique, e vive portanto em uma cidade onde se respira cultura e possui um dos maiores museus de tecnologia que eu já visitei, diz, entre outras coisas "No tempo livre, geralmente fico em casa assistindo partidas de futebol. Quando saio em Munique, costumo ir a shopping, ao centro ou a lojas e restaurantes legais. Não me interesso por museus."

Na página seguinte, em sua entrevista, o Dunga (acho que não preciso dizer que é o treinador da Seleção Brasileira!) afirma: "... quando morei na Itália, tentei viver como um italiano [...] Em Florença, por exemplo, ia sempre aos mercados tradicionais e a museus. Cheguei a entrar em lugares históricos reservados [...] De certa forma, essas experiências me deixaram com a cabeça mais aberta..."

Duas cabeças, duas sentenças sobre museus.

Segundo Neil e Philip Kotler, na obra Marketing dei Musei (editora Einaudi, 2004) "As pessoas são conscientes da existência dos museus, tem diversos graus de interesse neste tipo de oferta cultural, atitudes diversas em seu confronto além de disponibilidades também diversas para visitá-los. Isto depende de uma série de fatores: culturais, classe social, propensão à socialização e o tipo de personalidade. Um desafio importante para os responsáveis do marketing dos museus é compreender como o ambiente, a predisposição a a percepção preesistente influenciam o comportamento das pessoas no confronto do museu." (tradução livre do italiano).

A análise do comportamento dos dois jogadores frente aos museus pode, em parte, ser explicada pelos Kotler, com o auxílio do pouco que disseram nas entrevistas. Quais os fatores que fizeram o Breno não se interessar por museus e fizeram o Dunga ter atitude contrária? Ambos são de origem humilde, onde o ambiente influencia a percepção dos cânones culturais; quem sabe por alguma razão (um professor criativo, um trabalho escolar, a influência de alguma pessoa) podem ter levado o Dunga a ter apreendido o significado de museu e ele levou para sua vida adulta uma percepção positiva? Quem sabe o Breno não recebeu nenhum estímulo que o levasse a se interessar por museus? Será que seus empresários não o levaram a conhecer algum museu em Munique? O fator propensão à soclialização fica claro no depoimento de Dunga, justamente o contrário daquilo que se observa com Breno. Quanto à personalidade, as declarações me deixaram o indício que Dunga é extrovertivo, comunicativo, aberto ao conhecimento e a novos estilos de vida, já o Breno me demonstrou insegurança, introvertimento, dependente do conhecimento alheio e ainda muito apegado ao estilo de vida que conduzia no Brasil. Talvez, daí, a diferença entre os dois no confronto com os museus.
Um museólogo não é, naturalmente, psicólogo, mas, na promoção do seu museu, deve se valer de amplos conhecimentos. O marketing de museus tem como um dos seus pilares, a psicologia do público.

Uma anedota para concluir, por ora, o tema:
- Um fabricante de sapatos envia dois vendedores para analisar o mercado, em uma região isolada do planeta. Chegando lá, os vendedores constatam que todas as pessoas andam descalças. Ao voltarem para a base o fabricante pergunta sobre as possibilidades de vender sapatos naquela região. O vendedor A diz: - É impossível pois ninguém usa sapatos por lá. O vendedor B diz: - O mercado é fabuloso! ninguém usa sapatos por lá!
Qual é a sua postura como museólogo? a do vendedor A ou a do vendedor B? Acredito que da sua resposta o público potencial dos museus pode ou não agradecer!