sexta-feira, 28 de agosto de 2009

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 1











Acredito que o Museu do Seringal Vila Paraíso tenha sido o único no Estado do Amazonas, concebido sob a perspectiva de atendimento ao turista. Um Museu que nasceu de uma idéia de contextualização histórica, não tínhamos acervos, coleções, apenas os fatos históricos e, a partir deles, deveríamos comunicar, de certa forma, materializar, a vida nos seringais da Amazônia. O Museu do Seringal Vila Paraíso veio preencher a lacuna que os roteiros turísticos deixavam ao contar a história do período áureo de desenvolvimento econômico-social da Amazônia baseado no extrativismo da borracha.

O principal viés histórico da região repassado aos turistas é exatamente o período em que o comércio da borracha nativa, extraída da hevea brasiliensis, proporcionou um período de grande riqueza para as duas principais cidades da Amazônia: Manaus e Belém. O citytour por Manaus nunca deixou de enfatizar o salto de desenvolvimento que a cidade sofreu com a riqueza produzida nos seringais entre a última década do século XIX e a primeira do século XX. O passeio começa no Teatro Amazonas, passa pelo Tribunal de Justiça, Palácio Rio Negro, Alfândega, Porto, o Mercado Municipal, símbolos da história que enfatiza a opulência do Estado e dos ricos comerciantes de borracha, dos banqueiros, das casas aviadoras, dos luxuosos navios que faziam a rota entre Manaus e os principais portos da Europa.

O turista era sempre colocado a par de uma das faces da história que corresponde à última etapa de um processo que teve suas origens no seio da floresta. Como era produzida e gerada toda esta riqueza? Por quem? Como? Onde? O que é realmente a borracha? Como é a árvore? Quem eram e como viviam os seringueiros? Perguntas que o citytour não conseguia responder.

Para responder a estas perguntas e completar a informação sobre um período da história da região amazônica, surgiu o Museu do Seringal Vila Paraíso. Uma espécie de elo perdido de um dos momentos históricos mais fascinantes da Amazônia, o Ciclo da Borracha.
(fotos: Hera / A. Neto)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 2






A idealização do Museu do Seringal Vila Paraíso surgiu com a produção do filme de longa metragem A SELVA. A necessidade de se estabelecer um espaço que contextualizasse a realidade humana, geográfica, econômica e cultural do Ciclo da Borracha, foi somada ao aproveitamento das instalações construídas para a locação do filme. O longa metragem A SELVA é uma adaptação do romance homônimo do escritor português Ferreira de Castro, escrito em 1929, após quinze anos de sua saída do Seringal Paraíso, em Humaitá, no Amazonas, onde viveu e trabalhou por dois anos. A obra retrata os problemas sociais vividos pelos personagens reais em meio à selva amazônica na busca do “ouro negro”, a borracha.

O filme, dirigido pelo cineasta Leonel Vieira, teve como produtora a Costa do Castelo Filmes e cenografia do diretor de arte Sérgio Silveira. A produção se deu entre maio e julho de 2001, com a participação de renomados artistas portugueses e brasileiros como Diogo Morgado, Maitê Proença, Cláudio Marzo, Paulo Gracindo Júnior, Roberto Bonfim e Chico Dias.

A condição para o apoio do Governo do Amazonas à produção do filme seria que as locações e cenários fossem disponibilizados para a Secretaria da Cultura do Estado implantar o Museu do Seringal, uma forma de permitir aos visitantes e turistas uma viagem a um passado histórico, de desbravadores e heróis anônimos, de uma realidade cruel e exclusiva da selva amazônica.
(fotos: Hera / Ribamar)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 3










Após recebermos os cenários da locação, foram realizadas as reformas e adaptações necessárias para a montagem do Museu. Várias providências deveriam ser tomadas, desde a adaptação dos ambientes para um período de fausto e riqueza nos seringais (o filme A SELVA se passa no período de decadência do Ciclo da Borracha), tínhamos que procurar e adquirir o acervo necessário para ambientar todos os espaços. Este trabalho levou cerca de um ano. A equipe que iria trabalhar no Museu, com exceção da gerente, a pedagoga Judith Guimarães Vieira, foi toda contratada nas comunidades vizinhas, aproveitando-se, inclusive, de pessoas que haviam trabalhado na produção do filme.

Era necessário também que o Museu dispusesse de energia elétrica, mas de forma a não quebrar a originalidade do período representado. Dois geradores foram instalados, a fiação disfarçada e as lâmpadas adaptadas em antigos lampiões, atualmente o Museu dispõe de energia elétrica, beneficiado pelo Programa Luz Para Todos, do Governo Federal. Para o suprimento de água foi instalado um poço artesiano. Os banheiros também foram construídos de forma discreta, mas com todo conforto e higiene.

Por localizar-se em área rural, com acesso apenas por meio fluvial, a logística de montagem do Museu foi bastante difícil, principalmente em razão da sazonalidade das cheias e vazantes do rio. Um fator que ainda hoje regula a logística de manutenção e de visitação ao Museu.
(fotos: Hera / Judith / Ribamar)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 4
















ROTEIRO DA VISITA AO MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO

O percurso de visitação do Museu inicia-se com a chegada ao Trapiche, onde aportavam as embarcações para desembarque das mercadorias do Barracão de Aviamento e o embarque das cargas de borracha, levadas para as Casas Aviadoras de Manaus. Ao lado do ancoradouro encontra-se o Barracão de Armazenamento das pelas de borracha.

Em seguida passa-se pelo Casarão, residência do seringalista, proprietário do Seringal, erguida sobre palafitas, com extensas varandas, de onde se descortina a paisagem da floresta e do rio. Decorado com móveis e objetos de época, o Casarão dispõe de uma ampla sala, com ambiente de jantar, sala de estar e canto de leitura e música, com um piano. A cozinha, com fogão a lenha, dá acesso aos dois quartos que, no filme, foram dos personagens Dona Yayá e Alberto.

Ao lado esquerdo do Casarão localiza-se o Barracão dos Seringueiros onde, geralmente, ficavam os nordestinos contratados para trabalhar no Seringal, enquanto aguardavam a determinação de onde iriam se instalar.
(fotos: Hera / A. Neto)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 5










ROTEIRO DA VISITA AO MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO

Continuando o roteiro da visita, os visitantes e turistas são conduzidos ao Barracão de Aviamento, onde se desenrolavam os verdadeiros dramas e a face cruel das relações de trabalho entre o seringalista e os seringueiros. O Barracão possui todos os artigos manufaturados e industrializados vendidos aos seringueiros, numa relação comercial em que estes sempre ficavam devendo, pois a borracha extraída nunca era suficiente para quitar seus débitos com o patrão.

Ao lado do barracão encontra-se a Capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, com as paredes cobertas de ex-votos e bilhetes de agradecimento pelas graças alcançadas.
(fotos: Hera / Judith / A. Neto)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 6











ROTEIRO DA VISITA AO MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO

Na descida em direção ao rio, passa-se pela Casa de Banho das Mulheres, denominada no filme de “banho da Yayá”. Logo em seguida, surge a trilha que conduz os turistas e visitantes à “estrada”, onde se localizam as árvores da seringueira e se pode observar uma demonstração do corte para retirada do látex. A trilha conduz ao Tapiri de Defumação da Borracha, onde os seringueiros preparavam as pelas (bolas de borracha defumada) que eram posteriormente conduzidas ao Barracão de Aviamento do Seringal. A visita prossegue à Casa do Seringueiro, tosca construção de paus, coberta de palha, em meio à floresta.

O roteiro da visita é concluído com a volta à sede do Seringal, com passagem pelo rústico cemitério cenográfico, pela Casa de Farinha (onde algumas vezes se pode assistir e participar da preparação da farinha de mandioca) e pela estrebaria.
(fotos: Hera / A. Neto)