quinta-feira, 3 de setembro de 2009

NOTÍCIAS - O Turismo e o Museu do Seringal


Fiquei muito feliz ao ver que a AMAZONASTUR inseriu o Museu do Seringal nos roteiros que serão apresentados na 11ª Adventure Sports Fair (Feira de Esportes de Aventura), que será realizada em São Paulo, de 10 a 13 de setembro, um fato que reforça a tese que os Museus são excelentes parceiros do segmento de turismo. Já não era sem tempo deste Museu ser valorizado pelo órgão oficial de turismo do Estado do Amazonas, muito embora ele ainda não conste como atrativo no site da Amazonastur, pelo menos não consegui localizar o link.

O Museu do Seringal se fosse estudado sob o aspecto do turismo receptivo no Amazonas, serviria perfeitamente para dar uma amostragem do fluxo de turistas nacionais e estrangeiros para o estado. É um Museu recomendado pela bíblia dos turistas internacionais, o LONELY PLANET, como um dos locais que não se pode deixar de visitar no Amazonas. Vejam no link:
http://www.lonelyplanet.com/brazil/the-north/manaus/sights/458937

O Museu do Seringal recebe turistas de toda parte do mundo e é o único em Manaus que possui um sistema de estatísticas dos visitantes que indica as procedências. O número de visitantes é ainda pequeno, mas deve-se observar que o Museu tem uma capacidade de carga controlada além de contar com apenas a gerente, Judith Guimarães Vieira, como guia, às vezes auxiliada por alguns funcionários. Este trabalho poderia ser reforçado e expandido com guias de turismo próprios do Museu, principalmente com o domínio de idiomas, seria um excelente campo para os alunos de turismo.

O mais interessante de observar nas estatísticas de público do Museu do Seringal, além da diversidade de procedência, é o gradual aumento do fluxo, resultado do trabalho desenvolvido por Judith, de bem receber os visitantes motivando a divulgação “boca a boca”. Com a divulgação do Museu no guia da LONELY PLANET aumentou muito o número de turistas individuais, aqueles que viajam sozinhos ou em pequenos grupos, principalmente familiares. Os grupos organizados geralmente são levados por operadoras de turismo locais, além dos Hotéis de Selva, podemos citar o Tiwa e o Iberostar.

Só para dar uma idéia da importância das estatísticas de visitantes, no relatório Anual de 2008, o Museu do Seringal recebeu 5.643 visitantes, dos quais 1.860 estudantes, 1.093 visitantes procedentes do Amazonas e, quanto aos turistas, 1.207 de outros estados do Brasil e 1.483 estrangeiros, número que superou o de turistas brasileiros.

Dentre os turistas nacionais destacam-se os estados com maior número emissor: São Paulo (426), Rio de Janeiro (159) e Minas Gerais (101).

Do setor internacional o Museu recebeu em destaque: Espanha (236), Alemanha (231), Estados Unidos (198) e Itália (133). Também foram recebidos turistas da Estônia, Finlândia, Curaçao, República do Palau, Letônia, Sérvia, Eslovênia, Sri-Lanka, Kuwait, só para citar os mais “exóticos”.
Gostaria de ter os dados do turismo receptivo no Amazonas, mas não consegui encontrar na internet, se alguém tiver o link agradeço a informação!

Para maiores informações sobre o Museu do Seringal, consulte os posts relacionados neste blog ou o site da Secretaria de Estado da Cultura do Amazonas.

Drops das Musas

Recebi de uma amiga um pps intitulado O CEGO E O PUBLICITÁRIO. Relato a historinha: Um cego está sentado em uma calçada de Paris com um boné e uma tabuleta à sua frente, onde escreveu “- Por favor, me ajude, sou cego”. Passa por ali um publicitário e resolve ajudar o cego ao ver que o boné só tem uma moedinha. Pega a tabuleta e reescreve o anúncio com outras palavras. Mais tarde, ao passar pelo cego, nota que o boné está cheio de moedas e cédulas.

Afinal, qual a frase que o publicitário escreveu? Foi esta: “- Hoje é primavera em Paris... e eu não posso vê-la”. No final da apresentação do pps vem a frase que resume o moral da história:
“Sempre é bom mudarmos de estratégia quando nada nos acontece”.

Eu vi de um ângulo diferente, e resumiria a história com a frase: Se quer que alguma coisa seja feita da forma certa e adequada, contrate um profissional da área”. Complementando: “Se quer fazer um Museu ou uma Exposição corretamente, contrate um Museólogo!”.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 1











Acredito que o Museu do Seringal Vila Paraíso tenha sido o único no Estado do Amazonas, concebido sob a perspectiva de atendimento ao turista. Um Museu que nasceu de uma idéia de contextualização histórica, não tínhamos acervos, coleções, apenas os fatos históricos e, a partir deles, deveríamos comunicar, de certa forma, materializar, a vida nos seringais da Amazônia. O Museu do Seringal Vila Paraíso veio preencher a lacuna que os roteiros turísticos deixavam ao contar a história do período áureo de desenvolvimento econômico-social da Amazônia baseado no extrativismo da borracha.

O principal viés histórico da região repassado aos turistas é exatamente o período em que o comércio da borracha nativa, extraída da hevea brasiliensis, proporcionou um período de grande riqueza para as duas principais cidades da Amazônia: Manaus e Belém. O citytour por Manaus nunca deixou de enfatizar o salto de desenvolvimento que a cidade sofreu com a riqueza produzida nos seringais entre a última década do século XIX e a primeira do século XX. O passeio começa no Teatro Amazonas, passa pelo Tribunal de Justiça, Palácio Rio Negro, Alfândega, Porto, o Mercado Municipal, símbolos da história que enfatiza a opulência do Estado e dos ricos comerciantes de borracha, dos banqueiros, das casas aviadoras, dos luxuosos navios que faziam a rota entre Manaus e os principais portos da Europa.

O turista era sempre colocado a par de uma das faces da história que corresponde à última etapa de um processo que teve suas origens no seio da floresta. Como era produzida e gerada toda esta riqueza? Por quem? Como? Onde? O que é realmente a borracha? Como é a árvore? Quem eram e como viviam os seringueiros? Perguntas que o citytour não conseguia responder.

Para responder a estas perguntas e completar a informação sobre um período da história da região amazônica, surgiu o Museu do Seringal Vila Paraíso. Uma espécie de elo perdido de um dos momentos históricos mais fascinantes da Amazônia, o Ciclo da Borracha.
(fotos: Hera / A. Neto)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 2






A idealização do Museu do Seringal Vila Paraíso surgiu com a produção do filme de longa metragem A SELVA. A necessidade de se estabelecer um espaço que contextualizasse a realidade humana, geográfica, econômica e cultural do Ciclo da Borracha, foi somada ao aproveitamento das instalações construídas para a locação do filme. O longa metragem A SELVA é uma adaptação do romance homônimo do escritor português Ferreira de Castro, escrito em 1929, após quinze anos de sua saída do Seringal Paraíso, em Humaitá, no Amazonas, onde viveu e trabalhou por dois anos. A obra retrata os problemas sociais vividos pelos personagens reais em meio à selva amazônica na busca do “ouro negro”, a borracha.

O filme, dirigido pelo cineasta Leonel Vieira, teve como produtora a Costa do Castelo Filmes e cenografia do diretor de arte Sérgio Silveira. A produção se deu entre maio e julho de 2001, com a participação de renomados artistas portugueses e brasileiros como Diogo Morgado, Maitê Proença, Cláudio Marzo, Paulo Gracindo Júnior, Roberto Bonfim e Chico Dias.

A condição para o apoio do Governo do Amazonas à produção do filme seria que as locações e cenários fossem disponibilizados para a Secretaria da Cultura do Estado implantar o Museu do Seringal, uma forma de permitir aos visitantes e turistas uma viagem a um passado histórico, de desbravadores e heróis anônimos, de uma realidade cruel e exclusiva da selva amazônica.
(fotos: Hera / Ribamar)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 3










Após recebermos os cenários da locação, foram realizadas as reformas e adaptações necessárias para a montagem do Museu. Várias providências deveriam ser tomadas, desde a adaptação dos ambientes para um período de fausto e riqueza nos seringais (o filme A SELVA se passa no período de decadência do Ciclo da Borracha), tínhamos que procurar e adquirir o acervo necessário para ambientar todos os espaços. Este trabalho levou cerca de um ano. A equipe que iria trabalhar no Museu, com exceção da gerente, a pedagoga Judith Guimarães Vieira, foi toda contratada nas comunidades vizinhas, aproveitando-se, inclusive, de pessoas que haviam trabalhado na produção do filme.

Era necessário também que o Museu dispusesse de energia elétrica, mas de forma a não quebrar a originalidade do período representado. Dois geradores foram instalados, a fiação disfarçada e as lâmpadas adaptadas em antigos lampiões, atualmente o Museu dispõe de energia elétrica, beneficiado pelo Programa Luz Para Todos, do Governo Federal. Para o suprimento de água foi instalado um poço artesiano. Os banheiros também foram construídos de forma discreta, mas com todo conforto e higiene.

Por localizar-se em área rural, com acesso apenas por meio fluvial, a logística de montagem do Museu foi bastante difícil, principalmente em razão da sazonalidade das cheias e vazantes do rio. Um fator que ainda hoje regula a logística de manutenção e de visitação ao Museu.
(fotos: Hera / Judith / Ribamar)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 4
















ROTEIRO DA VISITA AO MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO

O percurso de visitação do Museu inicia-se com a chegada ao Trapiche, onde aportavam as embarcações para desembarque das mercadorias do Barracão de Aviamento e o embarque das cargas de borracha, levadas para as Casas Aviadoras de Manaus. Ao lado do ancoradouro encontra-se o Barracão de Armazenamento das pelas de borracha.

Em seguida passa-se pelo Casarão, residência do seringalista, proprietário do Seringal, erguida sobre palafitas, com extensas varandas, de onde se descortina a paisagem da floresta e do rio. Decorado com móveis e objetos de época, o Casarão dispõe de uma ampla sala, com ambiente de jantar, sala de estar e canto de leitura e música, com um piano. A cozinha, com fogão a lenha, dá acesso aos dois quartos que, no filme, foram dos personagens Dona Yayá e Alberto.

Ao lado esquerdo do Casarão localiza-se o Barracão dos Seringueiros onde, geralmente, ficavam os nordestinos contratados para trabalhar no Seringal, enquanto aguardavam a determinação de onde iriam se instalar.
(fotos: Hera / A. Neto)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 5










ROTEIRO DA VISITA AO MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO

Continuando o roteiro da visita, os visitantes e turistas são conduzidos ao Barracão de Aviamento, onde se desenrolavam os verdadeiros dramas e a face cruel das relações de trabalho entre o seringalista e os seringueiros. O Barracão possui todos os artigos manufaturados e industrializados vendidos aos seringueiros, numa relação comercial em que estes sempre ficavam devendo, pois a borracha extraída nunca era suficiente para quitar seus débitos com o patrão.

Ao lado do barracão encontra-se a Capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, com as paredes cobertas de ex-votos e bilhetes de agradecimento pelas graças alcançadas.
(fotos: Hera / Judith / A. Neto)

MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO - Série Museus de Manaus / Parte 6











ROTEIRO DA VISITA AO MUSEU DO SERINGAL VILA PARAÍSO

Na descida em direção ao rio, passa-se pela Casa de Banho das Mulheres, denominada no filme de “banho da Yayá”. Logo em seguida, surge a trilha que conduz os turistas e visitantes à “estrada”, onde se localizam as árvores da seringueira e se pode observar uma demonstração do corte para retirada do látex. A trilha conduz ao Tapiri de Defumação da Borracha, onde os seringueiros preparavam as pelas (bolas de borracha defumada) que eram posteriormente conduzidas ao Barracão de Aviamento do Seringal. A visita prossegue à Casa do Seringueiro, tosca construção de paus, coberta de palha, em meio à floresta.

O roteiro da visita é concluído com a volta à sede do Seringal, com passagem pelo rústico cemitério cenográfico, pela Casa de Farinha (onde algumas vezes se pode assistir e participar da preparação da farinha de mandioca) e pela estrebaria.
(fotos: Hera / A. Neto)